terça-feira, 17 de maio de 2011

Feitos de campeão: Espetáculo conta vida do Bahia e reverencia herois


Cadeiras lotadas, dezenas de camisas tricolores e um grito que ecoa pelo ar:

- Bora Bahêa!

Não, não estamos em um estádio de futebol. A legião de torcedores vestidos a caráter está em um teatro de Salvador. Em sua segunda temporada, o espetáculo “A Voz do Campeão” conta, em 80 minutos, a história de 80 anos do Esporte Clube Bahia. Em um monólogo repleto de emoção, o ator Narcival Rubens interpreta três gerações de torcedores do Tricolor. A ideia do espetáculo nasceu no templo das maiores glórias da história do Bahia, a Fonte Nova.

- Muito me emociona lembrar que tudo isso começou na Fonte Nova. Estávamos assistindo à final do Campeonato do Nordeste de 2001, quando o Bahia conquistou o título diante do Sport. Foi uma emoção muito grande e ali, diante dos meus olhos, eu tinha a musa inspiradora: a torcida do Bahia – conta Edvard Passos, diretor da peça e torcedor tricolor.

Após oito anos, o sonho se tornou realidade e "A Voz do Campeão" passou a contar não só a história de um clube glorioso, mas também os últimos 80 anos da história do desporto no estado.

Em cartaz pelo segundo ano, o espetáculo também rende homenagens a ídolos que marcaram a história do Bahia. Os homenageados recebem uma medalha, a Comenda da Ordem do Heroi Tricolor.

Um dos momentos mais marcantes do espetáculo relembra o Campeonato Baiano de 1976. Ao lado da única companheira em cena, a arquibancada que se move no palco, o personagem Bira relembra a decisão do segundo turno do estadual daquele ano. O Vitória, campeão do primeiro turno, precisava do triunfo para conquistar o título e saiu na frente no placar com um gol do argentino Fisher. No segundo tempo, pênalti para o Vitória. Na cobrança, Osni. O melhor ponta direita do Brasil em 72 e 74, tinha nos pés a chance de impedir o tetracampeonato estadual do Bahia. Mas eis que entra em cena a promessa de Bira.

- Ó, meu deus... Olha esse Osni. Ele é até boa gente, mas não sabe o que faz. Olha essa camisa que ele veste. Eu prometo que, se ele perder ele o pênalti, a gente salva essa alma. A gente traz ele para o Bahia. Aliás, a gente deixa ele vestir a camisa do Bahia e ainda ser técnico ao mesmo tempo – diz Bira.

osni assiste à peça A voz do campeão (Foto: Eric Luis Carvalho/Globoesporte.com)Osni (de óculos, à esquerda) marca presença na plateia
junto com o radialista Jorge San Martin (Foto: Eric Luis
Carvalho/Globoesporte.com)

O final da história todo mundo conhece. Osni perdeu o pênalti, o Bahia empatou o jogo e levou a decisão para o jogo extra. Na decisão, Tricolor tetracampeão baiano. O Esquadrão ainda repetiria o feito nos três anos seguintes. E com um "porém": Osni fez parte do elenco heptacampeão. No entanto, a profecia de Bira ainda não estava cumprida. Em 1984, o Bahia conquista o bicampeonato estadual. Osni é artilheiro tricolor, melhor jogador e, de quebra, técnico, tudo ao mesmo tempo, como na profecia de Bira.

O trecho do espetáculo ganhou ares ainda mais especiais com a presença, na plateia, de ninguém menos do que o próprio Osni. Aos 66 anos, o ídolo tricolor caiu na gargalhada ao ver em cena a sua própria história. No final, condecorado com a Comenda da Ordem do Heroi Tricolor, Osni agradeceu a homenagem.

- Eu agradeço a todos, porque é uma homenagem em vida. Muitos não tiveram essa oportunidade. Estou muito feliz. Quando eu pude vestir a camisa do Bahia, eu tive a chance de conhecer o carinho da torcida tricolor. O torcedor não esquece quem tem raça e determinação. Para vestir essa camisa, é preciso ter amor e determinação antes do dinheiro – disse, emocionado.

O diretor da peça, Edvard Passos, também comentou a homenagem.

- Tem um valor enorme presentear esses herois. Para mim é uma honra. Uma justa homenagem em nome da torcida.

astronauta voz do campeao (Foto: Eric Luis Carvalho/Globoesporte.com)Personagem Bira em busca da "estrela tricolor" (Foto:
Eric Luis Carvalho/Globoesporte.com)

O espetáculo ainda mostra outros momentos antológicos da história do Bahia, como o título da Taça Brasil de 1959, quando Tricolor venceu o Santos de Pelé. No trecho em que lembra a conquista, Bira entra em cena vestido de astronauta e, ao alcançar a primeira estrela, referente ao título, cita o astronauta russo Iuri Gargarin, que, em 1961, foi o primeiro homem a viajar pelo espaço.

- A terra é azul... vermelha e branca – diz o personagem, para delírio da platéia, que comemorava cada feito histórico como se a conquista ocorresse naquele momento.

Festa transforma teatro em estádio

Ainda no foyer do teatro, já era possível sentir o clima da peça. Tricolores de todas as idades aguardavam o início da peça. Já posicionada para o espetáculo, a plateia - ou torcida - era pura animação. Quando o hinodo Bahia ecoou, a multidão cantou junto como se estivesse nas arquibancadas de Pituaçu, ou da Fonte Nova, outra grande homenageada.

Encantado com a recepção do público, o ator Narcival Rubens falou da alegria de interpretar um tricolor.

- Sou um ator e todo ator é movido pela paixão. Sou torcedor do Bahia e não somente apaixonado pelo time, mas constantemente emocionado com a intensidade do amor tricolor. Ser "a voz do campeão" no teatro me faz experimentar uma das maiores emoções que já senti como artista e como torcedor do Bahia.

Jornalista relembra trajetória

Osni recebe comenda após peça a voz o campeão (Foto: Eric Luis Carvalho/Globoesporte.com)Osni recebe homenagem após o espetáculo (Foto: Eric
Luis Carvalho/Globoesporte.com)

O radialista Jorge San Martin, uma das figuras mais emblemáticas da imprensa esportiva baiana, foi o convidado para entregar a homenagem a Osni. San Martin elogiou a iniciativa e destacou a figura do ídolo tricolor.

- Tenho que parabenizar o espetáculo. Vivi grandes emoções na minha vida fazendo a cobertura do Bahia. E revi várias delas nesta noite. Este clube é uma força da natureza. Vi o Bahia de forma atrevida desafiar o “Sul maravilha”. Quanto a Osni, eu conheci quando ele chegou à Bahia, trazido por Jair da Rosa Pinto. E, desde então, conheci esse sujeito honesto, sério e trabalhador – disse.

Além de Osni, outros jogadores que marcaram época no Tricolor já receberam a comenda: o goleiro Nadinho e o atacante Marito, campeões de 59, os meias Thyrso e Elizeu, que brilharam na década de 70, além dos campeões brasileiros de 88 Paulo Rodrigues e Zé Carlos.

União entre futebol e arte

O diretor de A Voz do Campeão, Edvard Passos ressaltou a importância do momento atual em que futebol e arte caminham de forma muito próxima.

- Acho que este espetáculo marca um momento em que a arte e o futebol se unem. Atualmente está em cartaz uma exposição contando a vida do Vitória. Então, acho isso fantástico. É a arte lado a lado com o futebol.

Flamengo também vai ganhar montagem teatral

O espetáculo sobre a história do Bahia abriu portas para o diretor Edvard Passos: na semana passada, Passos foi ao Rio de Janeiro assinar contrato com o Flamengo. O clube carioca vai ganhar um espetáculo semelhante ao "A Voz do Campeão".

- Assinei o contrato para fazer o Flamengo e uma equipe já começou o trabalho de pesquisa. Nossa previsão inicial é de colocar a peça em cartaz no ano que vem. Mas existe a possibilidade de, se os trabalhos avançarem, entrar em cartaz ainda esse ano, em novembro, no aniversário do clube. Mas, a princípio, nossa previsão é para o ano que vem.


Fonte:Globoesporte.com

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