A aquisição do Carrefour é mais vantajosa para o Walmart do que para o Pão de Açúcar, afirmam especialistas consultados pelo iG. A fusão com a varejista americana teria uma sobreposição de lojas menor, já que o Walmart se concentra no Sul e no Nordeste do País e, o Carrefour, no Sudeste, a mesma região onde está a maioria das lojas do Pão de Açúcar.
O consumidor também deve ganhar mais com esse casamento. O motivo é que a união de Pão de Açúcar e Carrefour formaria um conglomerado com ativos do primeiro e do segundo colocado no ranking de supermercados brasileiro. Já uma eventual fusão de Carrefour e Walmart pode agrupar o segundo e terceiro no varejo de alimentos.
Loja do Carrefour em São Bernardo do Campo (SP): fusão da empresa com o Pão de Açúcar fracassou
“É uma concentração menor, que intensifica a rivalidade das empresas e favorece o consumidor”, diz o professor da USP Claudio Felisoni, presidente do Programa de Administração de Varejo (Provar/Ibevar). Para os clientes, melhor do que uma associação com o Walmart seria a aquisição por um novo competidor, o que elevaria a concorrência.
A proposta de fusão de Carrefour e Pão de Açúcar, feita oficialmente no dia 28 de junho, foi suspensa no dia 12 de julho. O motivo foi o desentendimento entre os sócios da rede brasileira, o empresário Abilio Diniz e o grupo Casino.
A possibilidade de manutenção das operações do Carrefour no Brasil é considerada improvável pelos especialistas. “Se essa ‘noiva’ não for do Pão de Açúcar, será de outro”, afirma Olavo Henrique Furtado, professor da Trevisan Escola de Negócios. Para ele, o Pão de Açúcar perdeu a chance de se tornar um player internacional do varejo por uma disputa societária. Agora, o Walmart é o favorito para fazer a aquisição.
O Carrefour pode chegar desvalorizado em uma segunda rodada de negociações, afirmam três especialistas consultados pelo iG. “Na primeira vez, ele chega como uma noiva disputada. Na segunda, como uma noiva com um pretendente que já declinou”, diz Felisoni.
A negociação com o Pão de Açúcar expôs que o Carrefour enfrenta uma situação difícil no Brasil, afirma Ricardo Scaroni, professor de marketing da ESPM. “O próximo comprador vai tentar negociar isso no preço”, diz.
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O fato de a rede sinalizar que está à venda deve provocar uma pequena depreciação, afirma o professor da Fundação Getulio Vargas e consultor em varejo, Juracy Parente. O desconto, no entanto, não será grande, porque o fracasso da fusão não está relacionado a problemas do Carrefour, mas a um conflito entre os sócios do Pão de Açúcar.
O consultor de estratégia Marcos Morita estima que o preço do Carrefour não será significativamente alterado. “O que deve ser avaliado é o valor dos ativos”, diz.
Fornecedores e concorrentes
Se, para o consumidor, uma associação do Carrefour com o Walmart parece melhor, para os fornecedores o impacto deve ser o mesmo do que se a rede se unisse ao Pão de Açúcar. Um grupo mais forte deve ter condições melhores de negociação e pode pressionar descontos nos contratos com fornecedores.
As redes varejistas médias também devem ser prejudicadas nos dois cenários. A tendência é que os fornecedores tentem recuperar eventuais perdas nas margens de lucro nos contratos com clientes menores.
Por outro lado, o fortalecimento de um concorrente pode aguçar o apetite por aquisições de outras redes. Se o Walmart comprar o Carrefour, por exemplo, o Pão de Açúcar pode procurar uma aproximação com redes médias, afirma Scaroni. “Quando há um comprador no mercado, o médio varejo tende a se valorizar”, afirma o professor da ESPM. A consolidação, a seu ver, pode também trazer oportunidades para o varejo regional.
Fonte:iG
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